Uma queixa cada vez mais recorrente nos consultórios de sexologia é sobre o uso excessivo de pornografia. Muitas vezes, os homens que procuram ajuda acham que estão dependentes dos vídeos eróticos, quando, na verdade, estão apenas com um uso compulsivo. Calma, vou explicar a diferença!
Gosto de pensar com meus pacientes que a dependência de pornografia se caracteriza como a perda do controle relacionada à busca pelos vídeos adultos, ou seja, nessa perda do controle, a pessoa passa a consumir tais vídeos por horas a fio sem se dar conta do tempo gasto ou interrompe atividades rotineiras para consumi-los. Por exemplo, pessoas que falam que vão assistir a apenas um vídeo e passam duas, três ou quatro horas em sites adultos, ou ainda pessoas que interrompem o trabalho para assistir a tais conteúdos.
No entanto, quando falamos em uso compulsivo, estamos falando de pessoas que geralmente se educaram sexualmente pela pornografia. Esse movimento fez com que essas pessoas acabassem encontrando nos filmes adultos uma espécie de conforto emocional e/ou fonte de prazer. Essa falta de educação sexual, aliada à função de regulação emocional proporcionada pela pornografia, faz com que muitos homens, ao se depararem com um cotidiano em que não existam boas fontes de prazer, ou ainda um cotidiano estressante, busquem nos filmes adultos um prazer rápido, um alívio ou a fuga de uma realidade difícil ou desconfortável.
Como lidar com tudo isso?
Primeiramente, para reduzir um comportamento que se julga inadequado, você precisa entender de onde ele vem e quais são os prejuízos que você tem com ele. Após essa avaliação inicial, busque colocar mais fontes de prazer no seu cotidiano, como atividades físicas, assistir filmes e séries, sair com amigos, achar um hobby… Enfim, tudo isso ajuda o seu cérebro a regular as suas emoções.
Como a psicoterapia e a terapia sexual podem ajudar?
Quando falamos do uso compulsivo ou da dependência de pornografia, o primeiro passo é entender se, além do excesso de pornografia, o paciente tem mais alguma queixa, como sintomas depressivos, ansiosos ou problemas no relacionamento. Após isso, rastreamos as possíveis causas que fazem o paciente buscar pelos vídeos. Procuramos entender como o cotidiano do paciente é composto, quais são suas fontes de estresse, onde estão alocados os seus momentos de tédio e ócio, como ele lida com os problemas da vida pessoal e do trabalho, pois tudo isso influencia no consumo de vídeos adultos.
Após feito isso, passamos algumas técnicas para que o paciente consiga regular as suas emoções, caso tenha se verificado que o paciente não sabe fazer isso (segredo: a maioria das pessoas não sabem regular emoções desconfortáveis tidas como “negativas”), ou buscamos reestruturar a rotina do paciente, tornando-a mais prazerosa ou menos maçante. Procuramos também trabalhar com os pensamentos que “autorizam” o paciente a abrir os vídeos, além de entender e trabalhar com rituais de consumo, caso o paciente os tenha.
Atenção: em alguns casos, a medicação se fará necessária, mas não em todos os casos.